Blog de Asas

É por aqui que eu escrevo pelos cotovelos. É por aqui que eu falo pela língua, pelos poros, pelos pelos e pelos dedos. Política, literatura, culinária e o que mais ocorrer.

Arquivos de tags: poesia latinoamericana

EUA seguem chamando de democracia a derrubada dos governantes que não lhe convêm!

Em tempos de nova intromissão americana na política latino-americana, apontada pelo jornal inglês The Guardian, relembro de Neruda. O poeta chileno morreu na tristeza, 12 dias depois do golpe de estado e morte do presidente chileno Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973.

Trechos da matéria do The Guardian:

“When is it considered legitimate to try and overthrow a democratically-elected government? In Washington, the answer has always been simple: when the US government says it is. Not surprisingly, that’s not the way Latin American governments generally see it.

(…)

“The Obama administration was a bit more subtle, but also made it clear where it stood. When Secretary of State John Kerry states that “We are particularly alarmed by reports that the Venezuelan government has arrested or detained scores of anti-government protestors,” he is taking a political position. Because there were many protestors who committed crimes: they attacked and injured police with chunks of concrete and Molotov cocktails; they burned cars, trashed and sometimes set fire to government buildings; and committed other acts of violence and vandalism.”

(…)

Of course we all know who the US government supports in Venezuela. They don’t really try to hide it: there’s $5m in the 2014 US federal budget for funding opposition activities inside Venezuela, and this is almost certainly the tip of the iceberg – adding to the hundreds of millions of dollars of overt support over the past 15 years.

But what makes these current US statements important, and angers governments in the region, is that they are telling the Venezuelan opposition that Washington is once again backing regime change. Kerry did the same thing in April of last year when Maduro was elected president and opposition presidential candidate Henrique Capriles claimed that the election was stolen. Kerry refused to recognize the election results. Kerry’s aggressive, anti-democratic posture brought such a strong rebuke from South American governments that he was forced to reverse course and tacitly recognize the Maduro government. (For those who did not follow these events, there was no doubt about the election results.)”

Resumindo: Os EUA se dão o direito de definir quando a derrubada de um governo é legítima (é legítima quando lhe convém);  governo americano envia 5 milhões de dólares/ano para financiar atividades da oposição venezuelana. E abre espaço para o apoio a uma mudança de regime – leia-se golpe, derrubada de Nicolás Maduro.

Mas falando de Neruda, o poema que vou apresentar aqui  é do mesmo Neruda dos amores, mas de denúncia diante dos graves fatos que antecederam o golpe chileno.

O livro “Incitação ao Nixonicídio e louvor da revolução chilena” foi lançado 8 meses antes do golpe que derrubou o Allende que deixou ao menos 3800 mortos e desaparecidos. Mudaram os presidentes americanos, mas a violência e ingerência na política interna especialmente nos países da Latinamerica segue a mesma:

A canção do castigo

Não contemos com seu arrependimento

nem esperemos do céu este trabalho:

quem à terra trouxe este tormento

deve encontrar seus juízes aqui embaixo,

pela justiça e pelo escarmento.

Não o aniquilaremos por vingança

mas sim pelo que canto e o que infundo:

minha razão é a paz e a esperança.

Nossos amores são de todo o mundo.

E o inseto voraz não se suicida

mas se enrosca e crava seu veneno

até que com canção inseticida

erguendo na aurora meu tinteiro,

chame todos os homens para anular

o Chefe ensaguentado e embusteiro,

que mandou pelo céu e pelo mar

que não vivessem mais povos inteiros,

povos de amor e sabedoria

que naquele outro extremo do planeta,

no Vietnã, em distantes abegoarias,

junto do arroz, em brancas bicicletas

fundaram o amor e a alegria.

povos que Nixon, o analfabeto,

nem ao menos de nome conhecia

e que mandou matar com um decreto

o distante chacal indiferente.

Cuando todos se vayan

 Nossos vizinhos latinoamericanos possuem tantos poetas que precisamos conhecer melhor! O poema abaixo é de um poeta e ensaísta chileno Jorge Teillier (Lautaro, 1935 – Viñas del Mar, 1996). Quem quiser mais informações sobre ele, só clicar aqui: http://es.wikipedia.org/wiki/Jorge_Teillier

O poema abaixo foi retirado da “Antología de la poesía latinoamericana 1950-1970 – Tomo 1”, organizado por Stefan Baciu, para a State University of New York, edição de 1974.

Cuando todos se vayan

A Eduardo Molina

Cuando todos se vayan a outros planetas

yo quedaré en la ciudad abandonada

bebiendo un último vaso de cerveza,

y luego volveré al pueblo donde siempre regreso

como el borracho a la taberna

y el niño a cabalgar

en el balancín roto.

Y en el pueblo no tendré nada qué hacer,

sino echarme luciérnagas a los bolsillos

o caminar a orillas de rieles oxidados

a sentarme en el roído mostrador de un almacén

para hablar con antiguos compañeros de escuela.

Como una araña que recorre

los mismos hilos de su red

caminaré sin prisa por las calles

invadidas de malezas

mirando palomares

que se vienen abajo,

hasta llegar a mi casa

donde me encerraré a escuchar

discos de un cantante de 1930

sin cuidarme jamás de mirar

los caminos infinitos

trazados por los cohetes en el espacio